Por Lara Silva* — Poços de Caldas, MG


Luis Nassif durante palestra no Flipoços 2017 em Poços de Caldas — Foto: Lara Silva/G1

Nascido em Poços de Caldas (MG), o jornalista Luis Nassif escolheu sua terra natal para o pré-lançamento de sua mais nova obra, a biografia do embaixador Walther Moreira Salles. O evento aconteceu na noite desta quinta-feira (4), no Festival Literário da cidade (Flipoços). O jornalista conversou com o G1 e falou sobre o livro, a "era de ouro" de Poços de Caldas e a situação política e econômica na qual o país se encontra.

Nassif conta que a ideia do livro surgiu no início dos anos 90, após a morte do pai, em um evento no Museu de Artes de São Paulo, onde ele encontrou Walther e um de seus filhos. “Levantar a biografia de Moreira Salles não significaria apenas reconstruir parte da história de Poços, mas da própria história política e econômica do Brasil”.

O livro retrata a vida do embaixador e parte dele, sobre a "era de ouro" da cidade, nas palavras do autor, que vai da descoberta de Poços pelos intelectuais cariocas e dura até o início dos anos 60.

“Poços era quase uma cidade mitológica nas décadas de 30 e 40”, afirma.

O embaixador

Filho de João Moreira Salles, Walther tornou-se sócio da Casa Bancária Moreira Salles, fundada por seu pai, e a transformou em Banco Moreira Salles, em 1940 e em 1975, que ficou conhecido como Unibanco.

Além de banqueiro, Moreira Salles era conhecido como embaixador por sua função exercida em Washington durante o segundo governo de Getúlio Vargas. Foi ministro da Fazenda no governo João Goulart, e negociador da dívida externa nos governos de Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek e Jânio Quadros.

Luis Nassif lança biografia de Walther Moreira Salles — Foto: IMS/Divulgação

O embaixador, banqueiro e advogado de formação morreu aos 88 anos, em 2001, em Araras, distrito de Petrópolis, no Estado do Rio de Janeiro. A causa da morte não foi revelada pela família.

O Instituto Moreira Salles, que dá assistência à cultura do país, foi fundado em 1990 e leva seu nome como homenagem. Em Poços de Caldas, há uma sede do instiuto.

Poços de Ouro

Para o jornalista, a descoberta das águas sulfurosas da cidade contribuiu para que intelectuais cariocas transformassem Poços de Caldas em atração para brasileiros e estrangeiros. “Poços virou uma cidade visitada pela elite intelectual carioca graças às águas, ao Doutor Pedro Sanches, ao Prefeito Francisco Escobar e às moças da Rua Paraná [atual Rua Assis Figueiredo]”, conta.

Devido aos jogos de azar e a inauguração do complexo Palace Cassino e Thermas, políticos e militares saíam da capital do país à época, o Rio de Janeiro (RJ), para se divertirem na cidade sul-mineira. “Foi neste período que Walther começou a pavimentar sua carreira, foi uma época que as pessoas ricas da região começaram a articular um setor de capitais. Além disso, Poços se tornava, durante dois ou três meses por ano, a capital da república”.

Políticos e elite brasileira se reuniam no Palace Casino na 'era de ouro' de Poços de Caldas — Foto: Assessoria de Imprensa/ Prefeitura de Poços de Caldas

As vindas de Vargas para a cidade fez com que a cidade ficasse conhecida no país. “Na época dos jogos, os principais artistas da cidade vinham para cá. Meu pai dizia que a cidade começou a se desenvolver só depois do fim dos cassinos”.

Na década de 70, Nassif conta que a cidade tinha cerca de 40 mil habitantes e não tinha mais a expressão social que teve antes. “Poços se transformou em uma cidade comum, ela perdeu a vida cultural que tinha e começou a crescer de uma forma desengonçada, mas com a vinda dos campi universitários e os comércios, a cidade foi se recuperando e hoje é uma cidade muito interessante”.

“Meu mundo era aquela Poços", continua Nassif. "Aquela mistura mágica de uma cidade padrão internacional no Sul de Minas, nunca mais vai acontecer”.

Nassif falou sobre a 'era de ouro' de Poços de Caldas: 'cidade mitológica' — Foto: Lara Silva/G1

Brasil atual

Conversando sobre a economia do país, o jornalista se posicionou sobre a atual situação em que vivemos. “Hoje há um tempo político que corre muito rápido, por causa da internet. Antes as notícias corriam semanalmente, mais devagar; então, as próximas eleições vão ser um ponto de corte, que vamos ver se recuperamos o mínimo de coesão social”. Nassif finaliza com um questionamento.

“O desmonte que estão fazendo nos direitos trabalhistas não tem lógica. Nenhum país do mundo faria isso. Como você impõe propostas desaprovadas por 90% da população?”

*Sob supervisão de Samantha Silva, do G1 Sul de Minas

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